domingo, 23 de setembro de 2007


Um verso para Rejane,
A doida.

Tragam minha filha ‘“.
Tragam minha filha”.



Este é o lamento
Da doida Rejane
Renal, No Hospital


Doida,
Renal,
Internada no Hospital

Doida de dor,
Doida de saudade,
Doida de aflição

Tragam minha filha

Tragam minha filha

A loucura
E enfermidade
Não lhe roubaram
A afetividade

Um verso para Rejane
A doida

O coração partido
De dor
Dor de mãe
Só outra mãe
Pode compreender.

Março, 2005.

solenidade de descerramento da placa formandos de medicina 2007.1







Solenidade de descerramento da placa – Turma de Medicina 2007.1
Data: 07 de agosto de 2007-07-
Local: Associação Médica do RN

MENSAGEM:

Bom dia,
Caros Pais, familiares, amigos e Formandos:

Agradeço a Deus, a dádiva de compartilhar convosco este momento.
Há uma profunda generosidade de vossa parte em me conceder esta honraria.
Quero dividi-la com meus colegas professores homenageados, com os médicos que estão envolvidos com o ensino, com todos os servidores do HUOL, que atuam compreendendo a importância da nossa instituição no ensino médico.
Parabenizo-os pela escolha do paraninfo, o Professor Munir Massud, ele se consitui numa das pilastras importantes da nossa instituição. Representa para nós um patrimônio de enorme valor, vivo. A sua presença na Escola é a garantia da defesa dos postulados da Ciência e dos mais nobres valores humanos. É a defesa da luta permanente pela autonomia do pensamento, sem o que nenhuma universidade existe. Para orgulho de nossa Instituição, foi descoberto, recentemente, pelo Conselho Federal de Medicina e hoje é o seu principal consultor.
Nem sempre sabemos fazer a leitura das nossas riquezas humanas, sobretudo quando estão entre nós.

Neste sentido, a homenagem que prestam ao Professor Carlos César Formiga Ramos – o nosso professor Formiga – nome da turma – se constitui num gesto grandioso e que merece uma reflexão especial.
É a primeira demonstração pública de que este querido professor continuará entre nós, de forma insubstituível.
É também um compromisso de perseguirmos o seu exemplo nos vários papéis que desempenhou na Instituição; procurando o bem comum, de forma objetiva, simples, clara. Tratando a todos da melhor forma possível, sem fazer distinções.
Existe um grande vácuo pela sua partida, que será atenuado na medida em que diante das dificuldades que enfrentarmos nos perguntemos como o Professor Formiga nos aconselharia a resolvê-las.
No vosso convite duas palavras retratam muito bem este Mestre amigo
“Doação...
Dedicar-se plenamente ao desconhecido
Vencer o cansaço, a solidão, a saudade em favor de vidas”.
Desafio ...
A dificuldade em trilhar o caminho da vida ...
“A Ciência a sustentar nossos passos, mas a consciência, a alma e o coração nos guiando na travessia”.
Desafio.
Lutar até o último instante, vencer inclusive a morte.
Além de todas as outras tarefas, durante três décadas, o Professor Formiga cuidou da Residência Médica da UFRN, no mais absoluto silêncio sobre as dificuldades que venceu.
Ajudado por fiéis escudeiros – servidor William – personificou a Comissão Estadual de Residência Médica. Sob seu comando, estendeu a Residência Médica a outras Instituições no Estado – Hospital João Machado, LIGA, Hospital Maria Alice, Hospital Pedro Germano.
Participou da criação de todos os programas de residência médica no Estado e nos orientou até no último dia de sua partida, com a mesma serenidade habitual.
É oportuno comunicar que em sessão plenária do CREMERN, ocorrida logo após a sua partida, o plenário aprovou a comenda Médico residente destaque Professor Carlos César Formiga Ramos e que a Comissão Estadual de Residência Médica – CEREM – em reunião plenária passou a denominar-se Comissão Estadual Professor Carlos César Formiga Ramos.
Assim fazendo, teremos a sua presença entre nós.
Nesta manhã de agosto, gostaria de convidá-los para um momento contemplativo.
Esta solenidade de descerramento da placa dá partida a uma semana de iniciação que será conclusa com a vossa colação de grau.
É a iniciação para o mundo profissional.
O desabrochar da flor. A libertação do ovo. A transformação da lagarta.
Neste sentido, a placa tem a magia de num futuro próximo ou distante, nos permitir aglutinar presente e passado, de forma Proustiana, através da nossa imaginação e do nosso sentir.

Desta forma, neste primeiro movimento da semana, peço-vos para dedicar esta manhã, aqueles que não estarão na vossa placa, mas certamente são os construtores maiores da vitória que neste tempo estamos consolidando.
- Os vossos pais.
Contemplando neste breve retorno, pensemos no vosso processo de criação, como algo divino.
Deus lhe escolhe.
Você resultado da união de duas únicas células.
Tente compreender as angústias e alegrias do nascimento vividas por vossos pais. Contemple a caminhada na infância. Contemple a dor da separação no primeiro dia da escola. Contemple a angústia deles, quando diante de algum resultado adverso. Contemple as angústias que enfrentaram quando diante de alguma enfermidade que vós sofrestes. Contemple a sensação – que procuraram omitir – da profunda impotência diante das possibilidades no enfrentamento do vestibular. Contemplem a alegria de vê-los aprovados.
Imaginem os sofrimentos que experimentaram ao ouvir vossos relatos de dificuldades durante esta jornada árdua de seis anos, que é o curso médico;
Imaginem quanto tempo lhes foi roubado das vossas presenças, do vosso afago, do vosso carinho, para que pudessem atender as exigências do curso que ora se conclui.
Tudo foi feito e tudo foi calado para vos possibilitar este momento.
E ainda neste momento, de inestimável alegria, experimentam uma sensação de angústia, pois a conclusão do curso dá início ao novo vôo.
São assim os Pais.
Mesmo os ausentes.
São Pais.
Tudo deseja de melhor aos filhos.
Para eles toda nossa homenagem.
Se perguntássemos a cada um qual será o desejo que trazem no coração em relação a vós, a resposta seria:
- a de que fossem bons médicos,
- que verdadeiramente exercessem esta missão de forma digna
Poderíamos então perguntar, o que significa no mundo de hoje ser bom médico?
Qual é a expectativa da sociedade em relação à profissão médica?
Qual o grau de satisfação desta mesma sociedade em relação aos seus médicos?
Quais os valores que estão norteando nossas decisões? Nossas escolhas?
Tentando responder a cada uma das questões acima, afirmamos que a vossa Escola, no esforço permanente de um conjunto de professores, vos apontou trilhas seguras.
A vossa Escola recentemente completou cinqüenta anos de existência e o centenário do seu fundador, o Professor Onofre Lopes, cuja biografia aponta caminhos de luta, persistência, obstinação e profundo compromisso social.
Não obstante todo o desenvolvimento tecnológico a nível mundial na área da saúde, isso não foi, nem será suficiente para substituir o papel do médico na percepção do indivíduo que sofre. Máquinas não têm sentimentos.
A vossa escola, através do esforço individual de seus dirigentes – Prof. José Ivonildo, magnífico reitor, Prof. Juarez, Diretor CCS, Prof. Stenio, Diretor do Complexo Hospitalar de Saúde, Prof. Lagreca, diretor do HUOL, Professor Kleber Morais, Diretor da Maternidade Escola Januário Cicco, Profa. Josana Diretora do Hospital de Professor Heriberto Bezerra, procurou suprir as carências no sentido de tentar oferecer as possibilidades de auxílio ao diagnóstico e terapêutica, advindo das novas ferramentas tecnológicas, entretanto, vos deixou claro em vários momentos a importância da preocupação com o indivíduo, naquilo que clamamos com a Medicina humanizada. Não há o que temer. Há que não esquecer, em nenhum instante.
Em meio a um descontentamento por um Sistema de Saúde Público, avançado, incompreendido, não consolidado e explorado por interesses diversos e um sistema de saúde privado que privilegia o lucro excessivo, colocando intermediários para explorar o trabalho dos seus principais atores, o médico permanece como retaguarda de credibilidade, lutando por atuar dentro de princípios éticos, em sintonia com as suas entidades representativas – O Conselho, Associações Médicas e os Sindicatos –
A Escola também vos ensinou isto.
Quanto à escolha dos vossos valores, antecede ao período em que ingressaram na Escola. Está assentada na base que vossos pais trabalharam; entretanto questões importantes específicas ou não da nossa profissão, também foram repassadas, reestruturadas e algumas até apresentadas.
Neste sentido, fizemos uma construção conjunta.
Entretanto, todos estes projetos, necessitam de vigilância permanente, para não nos iludirmos com os “cantos de sereias”.
Por fim, queremos dizer aos vossos pais, que confiamos em vós.
No vôo futuro que se descortina.
Temos a consciência do dever cumprido na nobre tarefa que nos foi confiada.
Em algum instante nos confundimos nas tarefas, pais foram educadores e vice-versa. Também experimentamos os mesmos sentimentos – angústias, pequenas tristezas, alegrias – mas nosso sentimento principal é de confiança, sobretudo a confiança que vem de Deus, em que saibamos enfrentar e superar todas as dificuldades.

Esta frase aprendi recentemente de uma placa no aeroporto de Cidade de Praia, capital de Cabo Verde:
“Si ka badu ka ta biradu”
“Se não se partir não se regressa”.
Em algum ponto do tempo, quando relembrarem esta placa, revivam este momento riquíssimo que juntos celebramos esta justa homenagem aos vossos pais. Eles estarão permanentemente na vossa placa, invisíveis.
A Benção :

O Senhor te abençoe e te guarde, o Senhor
mostre a Sua Face e tenha piedade de ti, o
Senhor volva o seu rosto para ti e te dê a
Paz. Num.6, 24

Há 06 anos atrás, o Acaso, nos possibilitou o primeiro encontro.
Naquela ocasião, trouxe-lhes de surpresa uma bata branca, com o símbolo de nossa Instituição.
Hoje, para coroar este momento, trago-lhes um ícone humano da nossa terra.
Alguém que conhece de vôos, partida, regresso, confiança em Deus.
Alguém que saindo de Areia Branca, ganhou o mundo, seguindo a trilha dos seus maiores professores: o carteiro Dijesú e a Tia Chaguinha.
Os seus ensinamentos, que repassa com clareza – enfrentar as dificuldades e jamais perder a alegria de viver.
Com vocês, Tico da Costa.

Um abraço fraterno,
Gilmar Amorim.










domingo, 9 de setembro de 2007

Ildo Lobo - Poeta Caboverdeano


Meu Testamento

Uma grande composição do poeta caboverdeano Ildo Lobo, que tivemos a felicidade de conhecer o trabalho, em recente viagem que fizemos aquele País.
Tenho a ajuda da colega Elsa Semedo, caboverdeana , residindo temporariamente aqui em Natal, para a tradução da língua nativa – crioulo – para o português do nordeste do Brasil.

Ildo Lobo, embora na outra dimensão, continuará vivo. E deste outro lado do Atlântico continuará encantando com a sua poesia repleta de sentimentos.

MEU TESTAMENTO

Meu corpo é do chão, minha alma é de Deus / A vida é minha,
O coração é para você

O passado não esqueci
O presente estou vivendo
O futuro eu não conheço
Pensamento é só você

Atrás do horizonte, fui sonhando
Amargura da vida me pôs os pés no chão
Minha bússola está encravada
Minha sina nasceu em mim

Como na cheia da ribeira
Eu não caí na mesma asneira

Eu quero a felicidade suprema da cantadeira,
Numa serenata sem janela
Sem tristeza ao meu redor
Numa grande noite de lua cheia

Eu acho o mundo uma canseira

Você me dá seu colo para quê

Na despedida eu quero mar,
Nem a saudade duma vida sonhada,
Eu quero a alegria duma vida vivida
Embalada nas ondas do destino


A entrega da sua alma a Deus, o amor vivido na sua essência, o aprendizado com as amarguras da vida sem perder a dimensão da felicidade suprema na observação das atitudes das pessoas mais simples. Por fim, na despedida o mar, o encontro com o Infinito, com a alegria da vida vivida pela ondas do seu próprio destino.

Este é o grande poeta caboverdeano.

sábado, 8 de setembro de 2007

A vida

A VIDA

Pela minha janela
Passa...

Passa a vida pela minha
Janela

Será minha a vida que
Passa pela janela?

Será janela a minha vida que passa?

Será vida minha
A janela que passa?

Passa
Tudo passa

Vida,
Janela,

Janela,
Vida,

A vida
pela minha janela
passa...
Natal, 06/04/04